Aos loucos, sanidade: Ciro Gomes no Roda Viva

Ciro Gomes no Roda Viva

No olho do furacão, Ciro Gomes, ex-governador do Ceará, foi o convidado do Roda Viva desta semana. DISPARADA, neste espaço, continuará com sua série de matérias, semana após semana.

A bancada era qualificada: editores da Piauí aqui, “especialistas do mercado” acolá, tornaram a entrevista realmente propositiva.

Sobre a greve, Ciro criticou o acordo feito pelo governo, que “deu 14 bilhões pra transportadora e nada pros caminhoneiros”. Ainda, pediu a queda de Pedro Parente e o responsabilizou por uma política entreguista, responsável pelo caos em que vivemos hoje. Disse ser possível manter o diesel no valor de R$ 2,80. Citou a ociosidade de 1/3 da capacidade produtiva da PETROBRAS na gestão Parente. Nas palavras de Ciro, a principal obrigação do governo golpista de Temer era a entrega do nosso petróleo, tendo, inclusive, sido essa a sua primeira medida.

Em um momento de rara sinceridade, o auto-intitulado “homem do mercado”, André Perfeito, disse que o presidente da Petrobrás, Pedro Parente, iria cair. Esperemos que o “mercado” tenha razão, pelo menos uma vez. O mesmo André Perfeito questionou as medidas econômicas propostas por Ciro e o susto com que elas são vistas pelo mercado. O governador explicou cuidadosamente seus planos para a reforma tributária. Em seguida, esclareceu os meandros de nossa eterna dívida, zombando inclusive do editorial da Folha que o criticava por exagerar na análise. Fez a contraprova e colocou o jornal numa saia justa em rede nacional.

Muito claramente criticou o Teto de Gastos ao dizer que este não tem parâmetro igual no mundo. Condicionou toda e qualquer mudança estrutural do País à sua revogação, assegurando que todos os candidatos que pretendiam fazer algo teriam de revogá-lo também. Truco!

Seu programa é muito coeso. Na saúde, defende a criação de um complexo de tecnologia que trabalhe diretamente para a produção de química fina, responsável pelos remédios, através da “quebra” de patentes já vencidas. Na educação, um modelo que saia do enciclopedismo e seja atento às mudanças da sociedade: tornar a escola mais atrativa que o crime.

Questionado sobre o possível apoio do PT, assumiu que não espera o no primeiro turno. Afirmou que quem boicotava a aliança era a direita e a burocracia do PT. Esta, acusada de não estar verdadeiramente preocupada com Lula e sim com a eleição de sua bancada de deputados.

Adiante, foi confrontado por uma série de perguntas delicadas, as pautas identitárias, para as quais ele respondeu que “não era guru de costumes” e que o papel de um Presidente é mediar conflitos, dando voz a todos os lados, “sem qualquer tabu”.

Em seguida veio o tão clamado assunto venezuelano. Ciro evocou nossa tradição diplomática, criticando qualquer tomada de posição pelo governo brasileiro. O dever do País deve ser a mediação dos conflitos, se preciso, até mesmo, com a ajuda do Papa.

A entrevista seguia um ritmo professoral, até que foi interrompida por uma constatação que todos sabemos ser real: o governo de São Paulo tem um pacto de “não agressão” com o crime organizado. Uma verdade que a mídia brasileira sempre esquece. O ex-ministro também colocou sob suspeita os números de homicidios do estado de São Paulo. A verificar.

Disse, ainda, que enfrentará a reforma da previdência com um novo regime, de capitalização para os que ganham mais, comandado pelos trabalhadores em corporativas. Ciro costuma acreditar em ideias mirabolantes. O Plano Real, por exemplo.

No final do programa, defendeu uma política de segurança pública inteligente e não reacionária. Logo depois, citou Che e Churchill, para desalento de setores da esquerda e da direita, e arrematou dizendo que seu sonho era “ver o Brasil feliz de novo”. A plateia foi ao delírio. Ciro Gomes é o candidato mais preparado para assumir a Presidência da República. O que não significa que será o eleito e tampouco que não cometa erros. Nesta noite, não errou. Um pouco de lucidez no manicômio.

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