Ciro Gomes e PND sob ataque: a esquerda que invoca união precisa parar de cair – e contar – mentiras

O Brasil foi atingido por um meteoro essa semana, logo após o fim das eleições municipais, com os desfechos de segundo turno em diversas capitais. Particularmente, este que vos fala estava no Rio de Janeiro para tratar de questões familiares, tão ou até mais importantes como quaisquer outras. Eis que meu celular desatou a pipocar com mensagens, tiros e bombas verbais em grupos, conversas privadas e postagens indignadas na ciência política sem diploma nem profundidade das redes sociais.

O Brasil foi atingido por um meteoro essa semana, logo após o fim das eleições municipais, com os desfechos de segundo turno em diversas capitais. Particularmente, este que vos fala estava no Rio de Janeiro para tratar de questões familiares, tão ou até mais importantes como quaisquer outras. Eis que meu celular desatou a pipocar com mensagens, tiros e bombas verbais em grupos, conversas privadas e postagens indignadas na ciência política sem diploma nem profundidade das redes sociais.

Quando percebi, dezenas de portais de notícias davam o tom da “verdade” bombástica e necessariamente polêmica: Ciro Gomes havia atacado Guilherme Boulos, Flavio Dino e o PT. Desde que me juntei aos trabalhistas paulistanos e cerrei fileiras na luta política, toda semana é assim. Durante as eleições, então, melhor nem comentar. E os que não estão perdidos em narrativas tão bonitas quanto falsas sabem que daqui até 2022, ainda mais com os resultados acachapantes do pleito desse ano, a tendência é piorar. E muito. Ah se vai.

Isso tem razão, tem nome e sobrenome, embora eu não precise dizer, até para não atrair gritos desesperados de amor ou ódio. Prefiro a sensatez, aquela moça elegante, que pouco tem se visto nesses tempos tão estranhos. Mas voltemos ao meteoro das páginas políticas nacionais. Cheguei até, por um segundo apenas, a encarar como “verdade” o que estava sendo alardeado como crime de traição contra a pátria Esquerda. Mas aquele bichinho que mora em nossas orelhas e que cresce com o passar dos anos, apitou com força. Lá fui eu: resolvi assistir a tal entrevista considerada “absurda e inaceitável.” Será mesmo?

Parafraseando o senador Cid Gomes, que passa por cima de fascista com sua retroescavapovo: “pois muito bem” (defendendo Dilma Roussef do Golpe de Estado em curso e denunciando os crimes de Eduardo Cunha, lembra? Espero que sim), o fato é que a “verdade” publicada não é a verdade verdadeira, como dizia Dona Katia, mulher de fibra que me criou na raça e no amor. No máximo, uma meia verdade distorcida por aqueles que insistem em tentar destruir ao invés de construir. Vale registrar que existem muitos outros personagens da vida nacional interessados em construir narrativas contra Ciro, o Projeto Nacional de Desenvolvimento e sua coalizão formada e em estágio, essa sim, de virar meteoro, e que inegavelmente saiu na frente para 2022 após os resultados de 2020. Pelo menos no campo progressista. E repito: pelo menos.

Mas que progresso é esse que não assiste sequer uma entrevista e sai por aí falando o que ouviu do outro, que por sua vez também não viu a “bagaça” e ouviu do outro? Não somos todos a favor de combater “Fake News”, apostando na fonte confiável e na assertividade? Senão, será que não viramos todos bolsonaristas, como o deputado, defensor da Cura Gay, que subiu no palco e dividiu palanque com Marília Arraes (PT)? Marília, vale dizer, que foi derrotada nas urnas por João Campos (PSB) em Recife, este tratado como vilão, bobo e de Direita. Mas claro, quem diz quem é de Esquerda hoje no Brasil é quem concedeu lucros recordes a bancos e rentistas e quem escolheu uma política de valorização de monopólios nacionais ao invés de socorrer e honrar a classe média e seus pequenos e médios empresários, abandonados literalmente a décadas. Isso sem falar na roubalheira desenfreada. Ah, só pra lembrar: a vice-prefeita eleita ao lado de Campos em Recife chama-se Isabella de Roldão (PDT), uma mulher trabalhista e “feminista com orgulho”, como ela mesma diz, para quem não sabe ou né, finge não saber, mas sabemos todos que sabe sim senhor. Segue o fio da navalha aqui comigo. Vai valer a pena.

Vamos nos ater aos fatos e abaixo trago as transcrições quase que literais do que foi dito no programa de José Luiz Datena por Ciro Gomes, aliás, único programa disposto a recebê-lo e ouvi-lo no país, mas que certo “namastê life” acha um absurdo pois o Datena não é um revolucionário socialista e portanto, não presta. Uma imaturidade – e inconsequência – política gigantesca, que não compreende o que até cego “vê”, pois inventou-se o braille, mas ainda não os urgentes óculos contra a cegueira ideológica: milhões de trabalhadores e trabalhadoras, em sua grande maioria humildes, pobres, vivendo na tragédia Brasil de hoje e por consequência no limiar da fome, assistem o programa policial sensacionalista todos os dias, mais que assistem filmes húngaros e séries russas. Desculpe dizer, mas francamente.

1 – “Ciro chamou Gulherme Boulos de radical! Que absurdo! Traidor!”

Ciro, por sinal o mesmo que apoiou Boulos e o PSOL desde o primeiro dia após o fim do primeiro turno, após a dupla dinâmica obter a sua maior vitória eleitoral da jovem carreira, e que não esqueçamos um fato importante: o jovem barbudo fez de tudo um pouco para conseguir tal feito, inclusive atacar impiedosamente o candidato de Ciro em São Paulo e o próprio presidenciável pedetista. Relato pessoal: eu, e é só ler a minha mini biografia no Portal Disparada para ter uma ideia de onde venho e para onde vou ideologicamente e politicamente, fui chamado de “fascista” por uma certa militância que se emociona quando a coisa esquenta. E que me perdoem a sinceridade incisiva: uma turma que não faz a mínima ideia do que acontece dentro dos comitês de campanha, incluído aí com ironia digna de tragicomédia o próprio candidato da turma da revolução do amor pelo voto. Vale frisar que moramos numa terra chamada Brasil, país em que o ódio se tornou estratégia de ação e de reação, individualmente e coletivamente. Melhor nem contar que por ali, nos meandros entre o Campo Limpo e a Vila Madalena, aconteceu tudo isso e mais um pouco.

Vamos à frase, mas contextualizando, como quem possui honra e responsabilidade deve fazer sempre:

“Me parece muito claro que o povo brasileiro mandou brigar lá fora (dos cargos eletivos) o “lulopetismo” e o “bolsonarismo”. (Guilherme) Boulos de fato fez (sic) um belíssimo desempenho, mas o PT apoiou o (Jilmar) Tatto, que perdeu (nota do colunista: PASMEM), para o Mamãe Falei (Arthur Duval)!”

Ciro prossegue no raciocínio, palavra importante e em desuso: “No Rio, colocaram a Benedita que ficou em quarto, com 10%. Lá em BH (Belo Horizonte), que o (Alexandre) Kalill, nosso aliado, ganhou no primeiro turno, o PT fez coisa de 2%. Foi uma realidade no país inteiro, só eles que não querem ver.”

E aí e só aí Ciro conclui: “(Resultado e protagonismo de Boulos em São Paulo) Agora a gente pode expressar predileção por uma esquerda mais radical sem precisar ter que explicar banditismo, contradição econômica, fracassos extraordinários do desenvolvimento do país”.

E como sempre, aquele que alguns amam odiar arrematou com a acidez de um suco de maracujá sem açúcar: “Por isso que perderam e vão perder no Brasil inteiro, (pois) não têm humildade de compreender e se reconciliar com o povo, insistindo nesse hegemonismo”.

RAPAIZ! Com “i” mesmo, igual a rua e povo falam. A manchete era “Ciro chama Boulos de radical”? Sério mesmo? Não é possível, pensei comigo. Voltei nos portais. Era isso mesmo. De novo e perdoe a redundância, mas francamente. Ciro criticou o PT e tão somente o PT. Na verdade, politicamente ele elogiou Guilherme Boulos e o PSol em si, mesmo que parte de sua bem intencionada militância não tenha sequer visto a entrevista e partiu para o cancelamento contra algo que jamais foi dito. Para fechar: “mais radical”. Mais é mais. Menos é menos. Ele sequer chamou o barba negra – ou preta, como for mais adequado – de “radical”. Falei para amigos e amigas mais próximas o alerta em tom de preocupação: vocês foram enganados. Ele não disse isso. Não adiantou. A insanidade política tem contaminado milhões de conterrâneos, e não é só na Direita, não. Não só o ex-ministro da Fazenda que estabilizou o Plano Real no governo Itamar Franco disse algo total e completamente diferente do anunciado, seja na confusão, seja na má intenção, como eu concordo integralmente com o nosso líder. Ora, o que ele disse é um tanto óbvio para quem acompanha a política nacional há mais de sete anos, quando “o Gigante acordou” e jogou todos nós no buraco em que nos encontramos.

2 – “Ciro disse que Flavio Dino perdeu a noção da realidade! Desagregador, coisa ruim!”

Vamos ao próximo ponto, esse até mais real. A narrativa anti-boulos é simplesmente uma mentira. E Cazuza que me perdoe, mas essas mentiras sinceras não interessam ao povo à beira do desespero. Mentira demonstrada já aqui, a não ser que a gente tenha enlouquecido de vez. Mas a de Flávio Dino é uma meia verdade, o que é menos pior na essência, porém tão grave quanto. E explico, claro. Aqui a gente explica. E se precisar a turma boa desenha. Até porque parte do nosso povo não sabe ler, embora os que saibam e que estudaram em boas escolas privadas muitas vezes também precisem de uma ilustração, por causas diferentes do povo humilde que vive o abandono e o sucateamento do ensino público. E só para não deixar barato também, ensino público que tem 7 das 10 melhores escolas do país instaladas no…Ceará de Ciro, Cid e Ivo Gomes, que viraram “coronéis” na boca de uma turma sem possuir meios de comunicação, nem meios de produção. Só por fazer política como vocação. E vocação das boas, aliás. Segue.

Vamos à questão, novamente, aqui contextualizada por quem aprendeu na “facul” que é o mínimo que se espera de quem quer se declarar comunicador:

E dessa vez de uma vez só que se eu estou cansado, imagina você, leitor, leitora. Perdão. Mas vocês viram o tamanho da jabuticaba estragada. Com a palavra, Ciro Gomes: “Nós ganhamos no primeiro turno em Salvador, onde fizemos um entendimento e lançamos a vice (agora) eleita. Ganhamos em Pernambuco, de novo indicando a vice-prefeitura, (derrotando a turma) do PT. Ganhamos em Aracaju. Ganhamos com a vice do PSB em Maceió. Ganhamos com uma vice em Natal, em entendimento, “vejam” (traduzindo um riso irônico de quem espinafrou os tucanos em São Paulo durante a eleição), com o PSDB. Ganhamos em Fortaleza (PDT na cabeça da chapa) com PSB na vice. E o Flavio Dino resolveu não apoiar ninguém no primeiro turno (no Maranhão). Os três candidatos que ele sinalizava ficaram fora do segundo turno! E vai votar com a camisa do “LulaLivre”. Quer dizer, essas pessoas perderam um pouco a noção da realidade do nosso povo. Quem ganhou foi quem soube interpretar com humildade o sentimento popular.”

Tem como discordar disso? Quer dizer, até pode se discordar. Não só disso, mas de tudo. Mas com contexto e embasamento, senão vira, como diziam no Rio nos áureos anos 90, que sobrevivi não sei como, “pura farofada”, algo como a “fanfarronice” de nossos dias repletos de histórias mal contadas e verdades não ditas. Eu deixo claro e já deve estar como as águas das praias de outro lugar, não da nossa pátria mãe sofrida, lamentavelmente, mas reafirmo – lembra da ilustração? – eu concordo em gênero, número e grau. Nunca tive medo de me posicionar. Não vai ser agora que vou “afinar” aos 35 anos e vendo o barco nacional afundar igual Titanic, e se deixarmos, não sobra nem a Rose.

Finalizo com um apelo sincero e apostando na humildade que deixei de lado em partes do texto, pois não está fácil para ninguém. Meus irmãos, minhas irmãs: como diz Ciro toda hora, vamos “botar” a mão na consciência. As pessoas estão passando fome. Somos atuais recordistas em todos os índices negativos possíveis e impossíveis que se possam medir e até nos que não se podem, como por exemplo, a cara de pau. Mas de quem espalha o boato, não de quem, muitas vezes com a melhor das intenções mas um tanto confuso, acaba sendo iludido – ou enganado – por uma retórica tão palpável quanto ilusória, e sim, é para ser contraditório mesmo.

Em um país em que o PDT e Ciro Gomes são o tempo todo empurrados para a Direita mesmo tendo projeto e postura progressista, nada pode ser impossível de dizer. E em referência ao PSOL de Marcelo Freixo e Boulos, nada pode ser impossível de mudar. Vamos juntos. Mas bem atentos, pois casca de banana e armadilha é o que não faltará na dura estrada até 2022. Estaremos lutando em todas as frentes possíveis em nome da verdade sem aspas e, principalmente, para recolocar o prato que foi arrancado das mesas de milhões de famílias brasileiras.

Por: Thiago Manga, jornalista e militante trabalhista.

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