Carlos Lupi, o homem certo na hora certa

Não, o autor do texto não ignora falhas humanas e políticas. Se Getúlio, Jango, Brizola, Darcy e tantos outros líderes erraram, Lupi não seria o primeiro a não errar. O Presidente Nacional do PDT, desde 2004, cometeu, assim como toda a esquerda brasileira, erros estratégicos.

Mas se Carlos Lupi errou como todos, com certeza acertou como poucos. E está, sim, na “grande mesa diretora” do Trabalhismo como um dos seus maiores líderes políticos.

Herdeiro político de Leonel Brizola, Lupi pegou um partido, ao contrário do que pensam, totalmente enfraquecido.

O PDT nas últimas eleições vivo com Brizola, em 2000, ganhou em 289 cidades. Em 2002, ainda sob presidência de Brizola, o Partido havia apenas 21 deputados federais. Em 1990, o PDT havia feito esse número contando apenas os deputados eleitos no Rio de Janeiro. Brizola, nesse ano, foi candidato ao Senado com Lupi pelo Rio de Janeiro e teve apenas 8,2% dos votos. Resultados, no mínimo, estranhos para o excelente governador que foi e líder nacional, respeitado nos quatro cantos do mundo.

A crise do tamanho do PDT foi objetivo claro e notório das classes dominantes que percebiam a democratização que viria após anos de Ditadura. A Ditadura derrubou os trabalhistas – com todos os democratas -, mirou no nosso legado e na nossa proposta de reformas nacionalistas e para o povo. Na hora da nossa volta à vida política institucional, nos negaram a legenda, apoiaram-se nos interesses da Rede Globo e combateram, inclusive com ajuda de parte da esquerda, a organização de Leonel Brizola.

Em 89, conseguiram, com provável fraude eleitoral, impedir a vitória de Brizola. Em 91, o Partido sofre um certo impacto com saída de César Maia, que viria a ser eleito prefeito do Rio no ano seguinte. Em 93, o ex-prefeito do Rio pelo PDT, Marcello Alencar, migrou-se para o PSDB e se elegeu governador no ano seguinte. Tudo ali no distrito federal do PDT, o Rio de Janeiro. Em 98, Brizola indica para ser candidato ao Governo do RJ o então prefeito de Campos dos Goytacazes Antonhy Garotinho. Numa chapa PDT, PT, PSB, PCdoB e PCB, Garotinho foi eleito contra o favorito César Maia. Mas em 2000, após discordâncias de Brizola e tentativa de disputa por parte de Garotinho, o então governador sai do Partido. Levou com ele deputados, prefeitos, quadros e parte de uma base social fortíssima e popular.

Aqui não é momento de fazer uma análise da complexa gestão de Garotinho, mas o fato é que mostrei, por A+B, que o PDT, quando Brizola nos deixou e Lupi assumiu o Partido, estava a cara do final trágico. Anunciava na grande imprensa que o sonho de Golbery iria se concretizar: enterrado está o PDT.

E muitos diziam que, nas mãos de um ex-jornaleiro, o fim estava mais próximo ainda. Narrativa clássica dos jornalões que não suportam ver gente que foi pobre em qualquer espaço de poder. Mas Lupi conseguiu manter o Partido. Começou a crescer o número de prefeituras, parlamentares, governadores.

No ano de 2007, Lupi assume o Ministério do Trabalho e Emprego. O primeiro desafio foi cessar a tendência de uma reforma trabalhista e sindical não muito diferente de Temer. Em 2004, o Governo Lula dizia tranquilamente n’O Globo essas bizarrices. Enfim, passado. O importante é que sua passagem pela pasta despertou mais ódio no seio da elite brasileira. Sua saída foi só mais uma das farsas do Judiciário e dos órgãos de imprensa, pois nada, nada e nada foi provado contra sua pessoa, mas o linchamento feito pelos engomadinhos do Brasil nunca considera isso.

Contradições? Várias. Sempre tivemos. O antigo PTB tinha os bigorrilhos que apoiavam a Ditadura Militar. Nos anos 80, acusavam o PDT “nos tempos de Brizola” de fisiológico por eventuais coligações com grupos políticos conservadores. Idem nos anos 90. Não foi diferente na consolidação do nosso sistema multi-ultra-partidário e das diferentes realidades locais. Sempre que evocam o “PDT de Brizola não tinha contradições”, eu fico perplexo com tamanha simplificação e até falsidade histórica. Não é demérito do Velho Briza, afinal, ele nos ensinou que não importa quem vai estar na caçamba, o importante é que seja a gente dirigindo o caminhão. De fato, algumas contradições foram necessárias, outras nem tanto. Mas o incrível, o que os engomadinhos do Brasil não perdoam é que aquele que foi jornaleiro, não fala francês, adora cantar um samba é mais inteligente que a maioria deles, possui uma habilidade ímpar e o tal do PDT não foi enterrado com Brizola.

Embora tenha sido ministro e aliado fiel ao PT, Lupi nunca perdeu no horizonte a necessidade do Trabalhismo no poder para a emancipação nacional, o desenvolvimento econômico e o poder político dos trabalhadores. Considerando isso, trouxe Ciro Gomes, toda uma turma militante, além de prefeitos, parlamentares. Quadros de suma importância.

Lupi e Ciro casaram experiências e visões de Brasil, contribuindo à História do Trabalhismo o Projeto Nacional de Desenvolvimento, uma agenda de urgência para o Brasil de hoje. Mais do que um candidato e um projeto no papel, renovou a esperança de um Brasil dos brasileiros.

O Partido Democrático Trabalhista voltou, nos últimos 5 anos, a discutir com cada vez mais força um projeto de esquerda, nacionalista e popular para o país. Mais do que isso: ele mira na disputa direta do poder.

Podemos ganhar ou perder em 2022, mas com certeza vamos arrastar mais e mais multidões, sonhos e forças.

Todo esse cenário escancara a profunda habilidade e compromisso de Lupi com o Trabalhismo e com o Brasil. Mentiras contra ele são propagadas na grande imprensa e até por gente do campo progressista. Mas a prática é o critério da verdade e verdade é que Lupi foi o homem certo na hora certa.

Por Matheus Bizzo, carioca, tricolor e imperiano. Fora isso, estudante de História da UFF, membro do Diretório Metropolitano do PDT-RJ e faz parte da Fundação Leonel Brizola – Alberto Pasqualini, além de colaborar com a Comunicação do PDT.

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