Ainda sobre o caráter revolucionário ou não do PDT

Por Paula Viol – Absorvendo um pouco do espírito natalino em que o velho de barba e que veste vermelho está nos centros dos debates políticos trabalhistas, resolvi me dar o direito para tréplica na seara aberta, se o PDT é revolucionário ou não. Qual é então o caminho a ser seguido?

Vou começar com o conceito de “invenção do trabalhismo”, de Angela de Castro Gomes. Esse ponto é curioso: Vargas não inventa o trabalhismo. O trabalhismo enquanto mote político, enquanto ideia, nasce na transição democrática do Estado Novo à República de 46. Tanto que a “invenção do trabalhismo” tem na propaganda – e nos discursos do Ministro do Trabalho Alexandre Marcondes Filho – um dos seus grandes propulsores (Martinho, 2007). Visto que o ambiente futuro seria o democrático, era preciso vencer pela persuasão discursiva. O trabalhismo nasceu enquanto estratégia de “mobilização popular” democrática e tornou-se uma tradição política para democracias livres.

Meu argumento não é descabido e Alberto Pasqualini é a minha inspiração. O grande intelectual que se arrogou a responsabilidade de teorizar o trabalhismo, fez sua cama na Revolução de 30, e anos mais tarde afastou-se de seu cargo portando críticas explícitas ao Estado Novo e à postura autoritária de Vargas. (Miranda, 2013). Além disso, Pasqualini tem a contribuição central de apresentar em seu pensamento a ideia de “justiça social” e “solidariedade entre as classes”. O teórico reformista advogava a visão de que o trabalhismo funciona dentro de um ambiente institucional forte, onde a liberdade é o mote para a emancipação humana.

Creio que a melhor forma de realizar a justiça social será ainda empregando os métodos da liberdade e não os processos da violência e da coação. Nenhuma transformação ou organização social estável será possível, se, ao mesmo tempo, não se reformar o caráter e não se aperfeiçoarem os sentimentos dos homens.” (MIRANDA, 2013, p. 111 apud PASQUALINI, 1948, p.39).

Vê-se, pois, que não existe nenhuma afinidade ideológica e doutrinária entre o trabalhismo e o comunismo. Nossos métodos e nossas soluções não se baseiam na luta de classes, mas na solidariedade entre as classes” (MIRANDA, 2013, p. 111-112 apud PASQUALINI, 1948, p. 41).

Sendo assim, Pasqualini nos coloca o desafio de pensar nossas instituições para além do karma da “democracia burguesa”. O Estado não é um ente útil a uma etapa do processo ou de uma fase que ainda chegará: a sociedade sem classes. O Estado é a ferramenta central de promoção da redistribuição da riqueza, dentro de uma sociedade democrática, reatualização de sua inspiração keynesiana. Ciro nos diz que o Estado no Brasil é um “Robin Wood às avessas, tira do pobre para dar ao rico”. É por isso que nós trabalhistas reformistas queremos instituições fortes para que possamos eleger um projeto que retorne a teoria do Robin Hood à seu significado inicial.

Por Paula Viol, presidente do PDT em Juiz de Fora-MG

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