Por que Bolsonaro anda calado? Considerações sobre a conjuntura americana e uma recomendação aos militares brasileiros

Por que Bolsonaro anda calado? Considerações sobre a conjuntura americana e uma recomendação aos militares brasileiros

Por Adriano Machado

Assistindo à crescente insatisfação do povo norte-americano com o seu herói de bangue-bangue favorito e que hoje ocupa a Casa Branca, Jair Bolsonaro, que de bobo não tem nada, começa a operar uma tática de recuo rumo a sua sobrevivência até 2022.

Afinal de contas, a maré da aliança colonial-conservadora entre Bolsonaro e seu herói do Faroeste que prometeu varrer a China do Ocidente, não anda nada bem em números, tampouco na política.

Por aqui nos Estados Unidos, a The Economist atualiza diariamente suas pesquisas de intenção de votos, especialmente dos delegados por estado. Os números dão paúra na turma do Terça Livre: se a eleição fosse hoje, Biden teria cerca de 2/3 dos delegados e uma probabilidade de 90% de chances de vitória.

Fora isso, a dissidência republicana contra Trump é altíssima. Movimentos sociais de regeneração do conservadorismo começam a ditar a agenda de destruição do Trumpism, como preferem chamar. Um deles, o Lincoln Project – formado por assessores de alto escalão de antigos governos republicanos – tem feito pequenas pílulas resgatando o passado unionista dos Republicanos no contexto da Guerra Civil, em contraposição à White Supremacy claramente defendida pelo atual presidente em vídeos de manifestantes contrário aos movimentos antirracistas no Twitter. Cada pílula do Lincoln Project tem atingido milhares de visualizações e replicado em larga escala pela grande mídia. Na minha bolha do Youtube, por ter assistido e curtido os vídeos, tem-me aparecido recomendações do canal MSNBC no Youtube, que comenta diariamente a dissidência contra Trump.

Além dele, o grupo Republicans Against Trump (Republicanos contra Trump) é um movimento de representantes da sociedade civil, eleitores arrependidos por terem votado no atual presidente. Seus materiais também estão bem disseminados no universo virtual.

Fora isso, a dissidência no alto escalão de antigos republicanos começa a minar a candidatura de Trump. Figuras como John Bolton – ex-Conselheiro de Segurança Nacional, demitido por Trump via Twitter- publicou recentemente um livro avassalador contra o atual Presidente. Bolton tem ido em cadeia nacional dizer que o atual presidente não tem a menor condição intelectual de permanecer na Presidência.

Além de Bolton, Collin Powell – ex-secretário de Estado de George W. Bush – um republicano genuíno, tem ido em cadeia nacional defender uma oposição a Trump nas próximas eleições.

Para colocar uma cereja no bolo, tampouco alguns membros da família Trump não o querem na Presidência. Recentemente foi a vez de sua sobrinha, a psicóloga Mary Trump, publicar um livro, chamando o tio de psicopata, acusando-o de ter fraudado no “Enem Americano”, onde teria pago um amigo para fazer sua prova.

O mar para o Presidente Bangue-bangue, representante do que há de pior no estereótipo do americano, parece estar com os dias contados. Há rumores de que, dado sua vaidade extrema e derrota factível, possa até mesmo renunciar a corrida para a presidência.

Entenderam porque o baba-ovo de Trump que hoje governa o Brasil anda quieto e aceitando dialogar, inclusive, com seus piores inimigos do STF, como Gilmar Mendes?

A maré para o conservadorismo mundial não anda boa. Por isso o vice-presidente Mourão anda dizendo que “estão nas cordas”. De fato, estão acuados.

Os militares devem temer uma reação em cadeia. Se daqui para Novembro, quando ocorrem as eleições para Presidente nos EUA, não saírem do governo e voltarem para a caserna, podem sair com uma reputação pior do que a ditadura.

O bolsonarismo no contexto da pandemia seria a versão brasileira da Guerra das Malvinas.

Em minha opinião, os militares sempre serão bem-vindos para dar sua contribuição no desenvolvimento nacional e no entendimento estratégico do Estado para a edificação da economia. Foi a partir desta tradição que conquistaram uma certa popularidade entre os brasileiros, mesmo numa perspectiva de modernização de corte autoritário-conservador. Deveriam ter aprendido com a história dos militares argentinos, que foram cair no conto neoliberal, numa reação ao peronismo e acabaram se lascando. Guardadas as devidas proporções, tentaram remar numa maré anti-petista doentia e tem de tudo para morrerem afogados com a pior experiência política da história do Brasil, o bloco histórico Lava-Jato/ Bolsonaro.

A agenda política do amanhã pós-pandemia vai exigir a constituição de um Estado Empreendedor de bem-estar social. Ou os militares aprendem isso numa boa, aproveitando-se da deixa do Gilmar Mendes, ou vão aprender com a realidade, com o aprofundamento do subdesenvolvimento e da dependência no país.

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