Um ranking dos maiores e piores presidentes do Brasil

Um ranking dos maiores e piores presidentes do Brasil

Com tanta polêmica nas redes sobre o ex-presidente Lula, declarado melhor e pior presidente da história brasileira sem qualquer critério que não emocional por uma geração que não tem conhecimento praticamente nenhum de história, resolvi elaborar um ranking pessoal de melhores e piores presidentes da República baseado em um pouco de conhecimento histórico para quem se interessar.

A polêmica causada pela postagem em minha página pessoal me levou a tornar esse ranking menos subjetivo e explicitar critérios para sua formulação que levaram a pequenas alterações.

Depois dele publico um ranking de crescimento médio do PIB durante mandato baseado em série histórica do IBGE e, para antes dos anos quarenta, no estudo do professor Reinaldo Gonçalves, da UFRJ.

Critérios deste ranking por ordem de importância:

Sob esses critérios acredito que um ranking razoável seria:

1º GETÚLIO VARGAS

Fundador do Estado Nacional Brasileiro, liderou a única revolução da história do país, a revolução de 30, que rompeu com o colonialismo e com a república do café com leite que mantinha o país agrário e arcaico. Fez o Brasil ser o primeiro país do mundo a sair da crise de 29 e do simultâneo colapso do café (cuja depressão em 30 e 31 atrapalha sua média de crescimento), regulando esse produto no país e nos levando a taxas de crescimento de 8,9%, 9,2% e 12% entre 33 e 36. Criou um consenso desenvolvimentista que durou cinquenta anos, lançou as bases da industrialização brasileira, criando a Vale do Rio Doce, CSN, Petrobrás, Eletrobrás e BNDES. Consolidou e universalizou as leis trabalhistas e criou o salário mínimo. Foi o maior distribuidor de renda da história recebendo a alcunha de “Pai dos Pobres”. Instituiu o voto feminino e a proteção para o início da organização sindical num país até então na prática escravagista. Fez o Brasil crescer a uma média de 4,3% durante o primeiro período a frente do poder e 6,2% durante o segundo (7,2% se considerarmos o mandato tampão de seu vice). Venceu uma guerra civil e alinhou o Brasil com o esforço aliado para derrotar o nazismo. O que pesa aqui contra ele nos critérios estabelecidos é o governo ditatorial durante a Segunda Guerra Mundial, o que não foi incomum na época. Na comparação entre o que recebeu e o que entregou em matéria de liberdades individuais, Getúlio derrubou uma república ditatorial e oligárquica, e entregou uma república democrática, com trabalhadores transformados em cidadãos com direitos e voto universal, constituinte livre e eleições gerais em 45, nas quais elegeu esmagadoramente seu candidato, Eurico Gaspar Dutra. Em 50 voltou de forma também esmagadora pelo voto livre popular para exercer o poder democraticamente, e por fim salvou o país de um golpe imperialista dando um tiro no próprio peito.

JUSCELINO KUBITSCHEK

Aliado de Vargas, assumiu um país deprimido e fraturado pelo golpe que culminou em seu suicídio. Em democracia plena, enfrentando outras oito tentativas de golpe, interiorizou o país, mudou nossa matriz energética para a hidroelétrica construindo entre outras Furnas, promoveu o crescimento médio do PIB em 8,1% ao ano e a maior epopeia de industrialização de um mandato democrático na história, com a produção industrial crescendo 80% no período e a indústria de transformação 186%, em Kw, derivados do petróleo, aço, carros e caminhões. Integrou o país que só possuía 800 km de estradas asfaltadas com 14000 km de rodovias, como a Régis Bittencourt, Fernão Dias, Cuiabá-Rio Branco e Belém-Brasília. Tirou a Petrobrás do papel e construiu a REDUC, nos tornando autossuficientes em petróleo e derivados. Rearmou as FFAA e rompeu com o FMI que queria garrotear nosso desenvolvimento com “austeridade”. Aumentou nossa renda per capita em cerca de 23%, ampliado o mercado interno com uma arrojada política de crédito ao consumidor e deixou o salário mínimo no maior nível real de sua história até hoje. Como síntese do mais espetacular mandato que o país já viu, construiu a nova capital, Brasília, e entregou um país pacificado e com fé inquebrantável em seu destino.

3º ERNESTO GEISEL

Capitaneando um crescimento médio de 6,7% do PIB, enfrentou a crise do petróleo com a criação do PND, o Plano Nacional de Desenvolvimento que foi o último projeto nacional de nossa república e lançou as bases de nosso desenvolvimento até o fim dos anos oitenta. Construiu Itaipu, a maior usina hidroelétrica do mundo, as primeiras linhas de metrô no Rio e São Paulo e a Ponte Rio-Niterói (na época a 2ª maior ponte do mundo). Criou o Proálcool e a Nuclep, e foi o pai do programa de energia nuclear brasileiro. Criou igualmente o Dataprev, a Cobra, o FIES e o INAMPS (predecessor do SUS). Criador da nova diplomacia brasileira, o “pragmatismo responsável”, ampliou presença brasileira na África e Terceiro Mundo, América Latina, e denunciou e abandonou o tratado militar Brasil-Estados Unidos. Reconheceu de imediato os regimes socialistas português e angolano, reatou relações com a China e se rebelou contra a bipolaridade geopolítica da guerra fria. Tendo recebido um país controlado pela linha dura nos anos de chumbo, promoveu a distensão política, acabou com o AI-5, negociou a anistia geral e derrotou a linha dura dando início à redemocratização. Em relação aos critérios adotados sua fragilidade evidente é a de que era um ditador, no entanto recebeu a ditadura em seu período mais violento e entregou a abertura. Igualmente não se preocupou com a distribuição de renda. Recentemente jornalista brasileiro divulgou um suposto documento da CIA que afirma que ele tomou conhecimento do assassinato de “terroristas” pelo governo. A confiabilidade da fonte é duvidosa.

4º ITAMAR FRANCO

Em um mandato de somente dois anos, salvou a democracia recém reconquistada, enfrentou o sistema financeiro e as elites nacionais para acabar com a correção monetária da ditadura e a hiperinflação, que já durava uma década. Promoveu o maior crescimento do PIB pós redemocratização, de 5% em média, e tirou do papel o Mercosul. Ainda reverteu as políticas desindustrializantes de Collor, criou a TJLP, e fez uma minirreforma tributária na caneta, com criação de nova alíquota do IR para altos salários (revogada por FHC). Contra ele pesa o fato de ter privatizado a CSN e ter apoiado FHC para sua sucessão, decisão essa da qual ele se arrependeu publicamente.

5º JOÃO GOULART

Enfrentando três tentativas de golpe (uma com o parlamentarismo), em menos de três anos de governo Jango promoveu o crescimento do PIB a uma média de 5,2% ao ano, taxou as remessas de lucros para o exterior, começou o mais ambicioso programa de reformas da história do Brasil, as reformas de base, Criou a UnB, e optou pelo exílio para evitar que o pais fosse invadido pelos EUA e dividido. Contra ele pesa o fracasso na tentativa de se estabilizar e incapacidade de avaliar até onde tinha poder de ir. As reformas de base, acusadas de projeto socialista pela oposição e estopim do Golpe de 1964, acabaram com a redemocratização sendo incorporadas à Constituição de 1988.

6º DEODORO DA FONSCECA

Fundador da República, lançou as bases da república velha, acabou com o Império e baniu a família imperial, convocando Assembleia Constituinte. Criou o Código Penal Brasileiro e oficializou a separação entre Igreja e o Estado, como a instituição do casamento civil. Recebeu um país colapsado, em recessão crônica e sufocado por endividamento e falta de meio circulante. Com uma política de forte expansão monetária, liquidou a dívida pública nas mãos da oligarquia que estrangulava o crescimento nacional e iniciou política de crédito nacional, responsável por um crescimento médio de 10,1% do PIB em seu mandato. Promulgada a Constituição, foi eleito para um mandato constitucional, mas, muito doente, renunciou em meio a Revolta da Armada. Morreu menos de um ano depois. Contra ele pesa os efeitos inflacionários da política expansionista de Ruy Barbosa e a incapacidade de pacificar as disputas na República nascente.

7º EPITÁCIO PESSOA

Primeiro e único presidente eleito de fora do país, enquanto liderava a comitiva brasileira no tratado de Versailles, e único fora da política do café com leite da república velha, esse nordestino promoveu um crescimento médio de 7,2%, o começo da industrialização do país, as primeiras e maciças obras da história contra a seca do Nordeste, primeira universidade do Brasil e a construção de milhares de Km de ferrovias.

PIORES

1º FHC

Maior destruidor da soberania nacional na história até aqui, segundo representante do neoliberalismo no Brasil e criador do rentismo selvagem brasileiro, privatizou metade do patrimônio público construído em cem anos de sacrifício do povo brasileiro a preços simbólicos. A Vale do Rio Doce, então a maior mineradora do mundo que não provocava acidentes ecológicos nem matava pessoas, foi “vendida” pelo lucro de um ano. Metade da Petrobrás foi, silenciosamente, entregue no mercado de capitais. Apesar de toda essa queima de patrimônio, nossa dívida, ao invés de ser abatida, decuplicou. Operou durante seu governo a maior taxa de juros reais da história. Sucateou nossa infraestrutura com oito anos sem obras, nos levando ao apagão, achatou os salários em geral e saiu com um crescimento médio do PIB de 2,3%. Enterrou o programa espacial brasileiro e entregou para os EUA o monitoramento da Amazônia. Apesar de não ser o pior resultado do PIB de uma presidência, é um dos cinco piores. Nenhum presidente devastou tão severamente nossas bases econômicas para o desenvolvimento.

FLORIANO PEIXOTO

Deu o primeiro golpe da República, rasgando a Constituição recém promulgada que exigia convocação de eleições. Assumindo poderes ditatoriais, despertou revoltas contra sua usurpação que passou quatro anos reprimindo, ao custo de milhares de mortes de brasileiros. Governo caótico, para controlar a inflação promoveu brutal depressão, com uma queda recorde do PIB de 7,5% EM MÉDIA por ano. Em seu favor, conta o fato de ter herdado inflação alta do governo anterior e a necessidade de consolidar a República nascente protegendo-a de seus inimigos, o que conseguiu.

3º CASTELO BRANCO

Traidor do Presidente Constitucional João Goulart, seu então Chefe do Estado-Maior do Exército, Castelo foi o principal articulador do Golpe militar de 1964 e escolhido da CIA e Departamento de Estado Norte-Americano para dirigir o país. Títere, seu principal objetivo era acabar com os nacionalistas reformistas do PTB e suas Reformas de Base. Ascendendo ao poder prometendo eleições gerais em 65, traiu novamente os civis golpistas e institucionalizou a ditadura através dos atos institucionais. Aboliu as eleições diretas e o pluripartidarismo no país cassando mandatos de deputados e senadores, como JK. Tornou o Brasil vassalo dos EUA na política externa e endividou o país com eles, ainda revogando a lei de remessas de lucros. Suas reformas econômicas foram erráticas: criou o mecanismo inédito da correção monetária, que institucionalizou a inflação no Brasil até Itamar, causando brutal concentração de renda. Seu desempenho no crescimento econômico foi medíocre comparado com vinte anos antes e depois dele: 4,2% em média do PIB.

4º MICHEL TEMER

Não foi o maior entreguista da história por falta de tempo. Golpista, traiu sua parceira de chapa e usurpou o poder para deter as investigações por corrupção contra ele. O quarto representante do neoliberalismo no país foi também uma ruína no PIB: menos 0,5% ao ano em média, só perdendo para Floriano o posto de maior desastre econômico da história. Implantou, na Constituição, teto de gastos em saúde e educação para desviar recursos do Estado para pagar juros. Aboliu a maior conquista do trabalhador brasileiro, a CLT, com sua reforma trabalhista cujos impactos só estão começando a serem sentidos agora. Aumentou com ela a informalidade, e como resultado, de sua política de juros e corte de investimentos promoveu um colapso inédito das contas públicas, da previdência, dívida pública e déficit.

5º FERNANDO COLLOR

Primeiro representante do neoliberalismo no Brasil, promoveu a maior recessão da redemocratização, -4,3% em 1990. Bloqueou recursos da classe média na poupança, revogou a política industrial que vinha desde o regime militar e quebrou setores inteiros de nossa indústria, como o de autopeças e informática. Não soube lidar com o Congresso e em menos de três anos conseguiu sofrer impeachment deixando o país na hiperinflação.

6º COSTA E SILVA

Traindo os compromissos militares por redemocratização, Costa e Silva vence a disputa interna com Geisel pela sucessão de Castelo Branco e fecha mais o regime, instaurando sua fase mais repressiva e sanguinária. Em 68, como desfecho de uma crise causada por um discurso bobo de Márcio Moreira Alves, fecha o Congresso e decreta o famigerado AI-5 que acaba com todas as liberdades civis. Em seu favor, no entanto, pesam algumas medidas que tornam o julgamento de seu legado histórico difícil. Reverteu as políticas liberais de Castelo Branco e lançou o Plano Estratégico de Desenvolvimento (PED), iniciando o período conhecido como milagre econômico brasileiro, com crescimento médio em seus dois anos finais de mandato de 9,6% do PIB. Neste curto período, também criou a Embraer, a FINEP, o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) e os Correios. Estava prestes a revogar o AI-5 quando sofreu derrame cerebral.

7ª DILMA ROUSSEFF

Pegou um país crescendo à média de 4% ao ano e enorme base parlamentar e o colapsou, entregou mais de 500 bilhões às grandes corporações em desonerações e pagou a maior taxa de juros reais do mundo no fim de seu governo, o que levou em 2015 e 2016 ao pagamento das incríveis cifras de 367 e 401 bilhões em juros. A dívida pública, como resultado dessa política de saque do país, subiu incríveis 24,8% em um ano. Capitaneou um crescimento médio do país de 0,5% do PIB se considerarmos trimestre a trimestre até o primeiro de 2016. Assistiu a democracia ser destruída pelo MP e Judiciário sem reagir, na esperança de que a operação lava jato atingisse seus aliados e seu padrinho político e antecessor, Lula. Não reagiu à espionagem da CIA e NSA em nosso território e promoveu em 2015 o maior estelionato eleitoral da história do Brasil, aplicando o programa neoliberal derrotado nas urnas, se tornando assim, em seu segundo mandato, a terceira representante do neoliberalismo no país. Conseguiu ser derrubada um ano depois de reeleita, seu nome virou sinônimo de incapacidade política.

RANKING DOS PRESIDENTES POR CRESCIMENTO MÉDIO DO PIB (só quem governou mais que um ano)

1 – MÉDICI 11,9

2 – DEODORO 10,1

3 – CAFÉ FILHO (vice de Getúlio, 55) 8,8

4 – JK 8,1

5 – COSTA E SILVA 7,8

6 – DUTRA 7,6

7 – EPITÁCIO 7,5

8 – GEISEL 6,7

9 – NILO 6,4

10 – GETÚLIO 6,2

11 – JANGO 5,2

12 – WASHINGTON LUÍS 5,1

13 – ITAMAR 5,0

14 – RODRIGUES ALVES 4,7

15 – SARNEY 4,5

16 – PRUDENTE DE MORAES 4,5

17 – CASTELO BRANCO 4,2

18 – LULA 4,0

19 – BERNARDES 3,7

20 – HERMES 3,5

21 – CAMPOS SALES 3,1

22 – FIGUEIREDO 2,8

23 – AFONSO PENA 2,5

24 – FHC 2,3

25 – DILMA 1,1

26 – TEMER -0,5

27 – COLLOR -1,2

28 – FLORIANO -7,5

Nos cinco piores lugares, quatro ajustes neoliberais e uma guerra civil. QUATRO AJUSTES NEOLIBERAIS.

Desde que essa chaga entrou no Brasil com Collor nossa economia virou um charco de estagnação de onde não saímos.

ATÉ QUANDO?

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