Mackenzie amanhece aos gritos de “racistas, fascistas, não passarão”

manifestação no mackenzie contra aluno racista

Em repúdio ao ódio e à intolerância, alunos da Universidade Presbiteriana Mackenzie de São Paulo organizaram um grande ato nesta terça-feira (30).

O principal objetivo é pressionar a universidade para que se posicione contra a manifestação do estudante de Direito, Pedro Bellintani Baleotti, de 25 anos, que já foi desligado do escritório de advocacia em que estagiava, o DDSA, após aparecer em vídeo, nas redes sociais, dizendo que estava indo votar em Jair Bolsonaro (PSL) “ao som de Zezé, armado com faca, pistola, o diabo, louco para ver um vadio, vagabundo com camiseta vermelha e já matar logo”.

No fim do vídeo, ele ainda filma duas pessoas negras em uma moto, e diz: “Tá vendo essa negraiada? Vai morrer! Vai morrer! É capitão, caralho”.

Ato contra racismo, ocorrido na Universidade Presbiteriana Mackenzie

Um estudante de Direito e membro da coordenação do Coletivo Negro Afromack afirmou durante entrevista que é simbolicamente significativo que os alunos se disponham a organizar tais atos, tendo em vista o momento de radicalização pelo qual o país passa, no qual os negros são um dos principais alvos.

Ao ser questionado sobre o histórico de manifestações de ódio e intolerância dentro do Mackenzie, disse que a universidade não pode ficar isenta, já que, para ele, fechar os olhos para tais discursos é uma verdadeira autorização para que declarações com este teor continuem ocorrendo.

Ao final da entrevista, afirmou que o ato não só tem o objetivo de cobrar um posicionamento da universidade, como também enfatizar a necessidade de discussão sobre a questão racial, principalmente em um ambiente que possui um histórico de recorrentes manifestações racistas por parte de alguns dos seus alunos.

Ato contra racismo, ocorrido na Universidade Presbiteriana Mackenzie

O Coletivo Negro Afromack do Mackenzie fez uma nota em repúdio ao caso e pede pela segurança de seus integrantes.

Leia a nota na íntegra:

Um dia após as eleições presidenciais que elegeram Jair Bolsonaro como o novo presidente do Brasil, no dia 29 de Outubro de 2018, um vídeo do aluno Pedro Balleoti, que cursa o décimo semestre de Direito na Universidade Presbiteriana Mackenzie foi divulgado. Nesse vídeo, o aluno diz que “essa negraiada tem mais que morrer”.

Nesse vídeo o futuro bacharel expõe todo o seu preconceito tecido nos pilares da ideologia fascista. O fascismo fora uma ideologia política social oriunda do início do século XX, é o principal cerne de tal pensamento reside na exclusão grupos tidos como minoritários qualitativamente, ou seja, todas as pessoas que não compõem o padrão étnico eurocêntrico de branquitude, heterossexualidade intrinsecamente ligados ao patriarcalismo judaico-cristão.   

Em outras palavras, toda pessoa que não sobrevier enquadradas nos parâmetros imposto pela ideologia fascista devem ser exterminadas, uma vez que a  liberdade por elas propostas incidem diretamente na construção de um quadro pautado na diversidade, pensamento que vai de encontro com o ideal fascista.

Em uma breve análise do vídeo, abaixo juntado, irrefutável o ILÍCITO PENAL cometido pelo futuro Operador do Direito, haja vista que crime de Racismo encontra-se previsto na Constituição Federal de 1988, para mais vejamos:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

XLII – a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei;

A referida norma busca tutelar os direitos de bem estar social dos descendentes dos africanos que foram sequestrados e compulsoriamente trazidos ao Brasil para se tornarem escravos, uma vez que o passado histórico de exclusão ainda reproduz danos irremediáveis à  população afro-brasileira.

Devemos salientar que o que foi dito pelo aluno constitui crime de Racismo, previsto na Lei7.716/1989 e o crime de Injúria Racial Artigo 20 lei 7716/89. Vivemos tempos de ódio, tempos em que temos medo de simplesmente colocar o pé para fora de casa e atitudes como essa nos fazem ter medo de ir até para Universidade, espaço esse que deveria ser dotado de saber.

É inaceitável que um aluno que cursa Direito e que deveria, no mínimo, respeitar a Constituição que tanto estuda e que jura proteger ao pegar a OAB, tenha um discurso como esse. Sendo a advocacia uma profissão indispensável para a administração da justiça, é inconcebível que o aluno tenha essas atitudes.

O discurso desse aluno representa perigo a nós, alunos negros do Mackenzie, mas não somente a nós, representa perigo a todo e qualquer negro. É nítido o racismo e a repulsa que esse aluno sente de nós, negros, visto que o mesmo se refere a nós como “negraiada”.

É preciso abrir os olhos pois nossa liberdade fundamental de vida está sendo ainda mais colocada em jogo com tais atitudes. Hoje é uma fala, amanhã pode ser um de nós mortos. Jamais nos esqueçamos de Marielle Franco. Nós estaremos do lado da vida, da luta por direitos e de uma sociedade antirracista.

Nós, em concordância com a responsabilidade que o Coletivo Negro Afromack do Mackenzie carrega ao representar todos os alunos negros dessa instituição, exigimos que a Universidade garanta a segurança de seus alunos e tome as medidas necessárias com relação a este aluno para tanto.

A OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) deverá investigar o caso e o estudante corre o risco de perder a possibilidade de advogar.

A Direção da Faculdade de Direito da Universidade Presbiteriana Mackenzie se posicionou em nota “contra toda e qualquer manifestação de ódio e discriminação racial” e afirmou que “atuará de forma energética para assegurar o respeito aos direitos fundamentais, a igualdade e o bem estar de sua comunidade acadêmica”.

Está prevista mais uma manifestação para hoje, às 19 horas, dentro do campus, agora organizada pelo próprio Coletivo Negro Afromack.

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